O luto tem sua face difícil de encarar e tem seu lado
interessante para se observar. Muitas famílias só se encontram ou reencontram
neste dia. Passam temporadas afastadas e quando chega a noticia de morte,
choram, lamentam e começam as lembranças dos bons momentos e as lamentações
pelo tempo perdido.
Para muitos este é o fim do relacionamento. Vivido o que
tinha que ser vivido e o que não viveu ficaram para trás sem recuperação.
Vivemos como se não existisse a morte, como se não fossemos
criados para morrer. Mesmo não aceitando é a única certeza que o ser humano
deveria ter.
Somos finitos, o que teríamos que viver deveria viver hoje.
Devido a este fato é que não consigo ser uma pessoa mal humorada, triste e
insensível ao próximo. Evito palavras que machuquem, pois não poderei ter tempo
para retratar. Evito ser implicante para não guardar em mim a magoa de quem
foi.
A família é a parte mais complicada na vida e na morte,
enquanto vivemos, é com ela que implicamos, brigamos, cortamos relações, na
morte é dela que sentimos falta, que choramos pelo tempo perdido. Ora por
remorso, ora por saudade.
É um momento de intensa reflexão sobre a vida e o futuro
pós-vida na terra para nós que ficamos. O silêncio no local e o falar baixo
mostram que respeitamos a dor daqueles que perderam, mas muito do silêncio está
em nossa mente como meio de reflexão pessoal. Quando estarei aqui? Para onde
irei quando for a minha vez? Mas passado aquele momento nossa mente apaga a
reflexão e voltamos a vida normal.
Não encontraremos respostas humanas para tal tragédia, não
encontraremos consolo tão cedo.
Não deixe de chorar seu luto, não deixe de sofrer tudo até o
momento em que a vida precisar voltar. Somente os que choram serão consolados.
Você não precisa ser forte neste exato momento, seja fraco, deixe ser
consolado. Deixe que a dor venha à tona com toda força. A morte não é a
maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nos enquanto
vivemos.
Além disso, o tempo é sábio. Ele não mata a saudade, não
diminui as distâncias, mas nos faz reorganizar sozinhos, quase sempre, aquele
momento que nos parecia sem fim. Queremos entender o porquê. Gostaríamos de ter
explicações que nos aliviassem. Precisamos compreender o que aconteceu. Mas, de
imediato, nada faz sentido. Temos muitas perguntas e quase nenhuma resposta.
Um dia, outro dia, a primeira semana, o primeiro mês, as
noites mal dormidas, os pesadelos que nos atormentam o sono, os sonhos, o
silêncio, a dor que se sente na alma, aquela vontade de um sinal. Tudo isso é
passageiro para aquele que perde alguém que ama. Mas de tudo ficaram três
certezas: a de estar sempre começando; a de que era preciso
continuar; e a certeza de que tudo poderia ser interrompido. Mas nesse exato
momento o que tenho em mente, é que, ''nunca se vai para sempre quando se deixa
no peito uma saudade''.
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